quarta-feira, 13 de julho de 2011

Desnutrição no Brasil

Blog destinado a evidenciar dados estatísticos da desnutrição no país. 
Matéria ministrada pelo professor Luis Paulo Braga para a turma de nutrição 2011.1 da Universidade Federal do Rio de Janeiro.
Alunas : Daiane Madeira, Julie Kemp e Karine de Melo.

Introdução

A desnutrição é uma doença causada pela dieta inapropriada, hipocalórica e hipoprotéica. Também pode ser causada por má-absorção de nutrientes ou anorexia. Tem influência de fatores sociais, psiquiátricos ou simplesmente patológicos. Acontece principalmente entre indivíduos de baixa renda e principalmente as crianças de países subdesenvolvidos.
Segundo Médicos sem Fronteiras, a cada ano 3,5 a 5 milhões de crianças menores de cinco anos morrem de desnutrição.

Causas:
A causa mais frequente da desnutrição é a uma má alimentação. Ainda, outras patologias podem desencadear má absorção ou dificuldade de alimentação e causar a desnutrição.

Fisiopatologia e quadro clínico

Em um indivíduo primeiramente com estado nutricional normal, ao ter sua alimentação altamente limitada, sofre primeiramente com o gasto energético. Gasta-se rapidamente os ATPs produzidos pelas mitocôndrias e em seguida a glicose dos tecidos e do sangue com a liberação de insulina.
Com o esgotamento da glicose, a próxima fonte de energia a ser utilizada é o glicogênio armazenado nos músculos e no fígado. Ele é rapidamente lisado em glicose e fornece um aporte razoável de energia. Sua depleção irá causar apatia, prostração e até síncopes - o cérebro que utiliza apenas a glicose e corpos cetônicos, como fonte de energia sofre muito quando há hipoglicemia. Em seguida, a gordura (triacilglicerol) é liberada das reservas adiposas, é quebrada em acido-graxo mais glicerol. O glicerol é transportado para o fígado a fim de produzir novas moléculas de glicose.O ácido-graxo por meio de beta-oxidação forma corpos cetônicos que causa aumento da acidez sangüinea (ph sanguineo normal 7,4). O acumulo de corpos cetônicos no sangue pode levar a um quadro de cetomia, sua progressão tende a evoluir com o surgimento de ceto-acidose (ph<7,3) compensado pelo organismo com liberação de bicarbonatos na circulação.
A pele fica mais grossa, sem o tecido adiposo subcutâneo. Nessa etapa, as proteínas dos músculos e do fígado passam a ser quebradas em aminoácidos para que esses por meio da gliconeogênese passem a ser a nova fonte de glicose (energia). Na verdade, o organismo pode usar ainda várias substâncias como fonte de energia além dessas, se for possível. Há grande perda de massa muscular e as feições do indivíduo ficam mais próximas ao esqueleto . A força muscular é mínima e a conseqüência seguinte é o óbito.

Fome e desnutrição

Fome e desnutrição tampouco são conceitos equivalentes uma vez que, se toda fome leva obrigatoriamente à desnutrição, nem toda desnutrição se origina da deficiência energética das dietas, sobretudo na população infantil. A deficiência específica de macro e micronutrientes, o desmame precoce, a higiene alimentar precária e a ocorrência excessiva de infecções são causas bastante comuns da desnutrição infantil. Ainda que não equivalentes, os conceitos de pobreza e desnutrição são os que mais se aproximam, uma vez que o bom estado nutricional, sobretudo na criança, pressupõe o atendimento de um leque abrangente de necessidades humanas, que incluem não apenas a disponibilidade de alimentos, mas também a diversificação e a adequação nutricional da dieta, conhecimentos básicos de higiene, condições salubres de moradia, cuidados de saúde, entre outras. 

Déficit de crescimento e peso

A desnutrição é medida de duas formas: déficit de crescimento e déficit de peso em relação à altura, que é a forma considerada mais grave. A última Pesquisa Nacional de Demografia e Saúde da Criança e da Mulher (PNDS 2006) indicou que, por motivos nutricionais, 6,8% das crianças brasileiras menores de cinco anos apresentavam déficit de crescimento para a idade e 1,6%, déficit de peso para a altura. No entanto, confirmando a tendência de queda, um levantamento realizado entre os usuários do Sistema Único de Saúde (SUS), em 2008, mostrou que a taxa de desnutrição em crianças menores de cinco anos baixara para 4,8%.

Gráfico de coluna de frequência relativa




Mas crianças e adolescentes brasileiros vêm ganhando peso e altura. No período de 1974 a 2007, o déficit de altura nas meninas menores de cinco anos caiu 85% e entre os meninos, 77%, de acordo com a Pesquisa Saúde Brasil 2008, do Ministério da Saúde. Há uma estreita relação entre escolaridade da mãe e desnutrição. Quanto mais anos de estudo tem a mãe, menos a criança é afetada pelo déficit de crescimento por motivos nutricionais. Cerca de 16% dos filhos das mães sem escolaridade são desnutridos, enquanto apenas 2% das crianças cujas mães estudaram mais de 12 anos apresentam este problema (PNDS 2006).


A exposição da população adulta à desnutrição, em algumas situações especiais, é baixa

No caso brasileiro, a prevalência de déficit de peso é igual ou superior a 5% para homens com mais de 74 anos de idade (8,9%) e mulheres com menos de 30 anos (12,2% entre as 20 e 24 anos e 7,3% entre 25 e 29 anos). Entre os homens adultos, em geral, o déficit de peso é sempre inferior a 5% em todas as regiões do país, variando de 2% no Sul a 3,5% no Nordeste, sendo ligeiramente maior no meio rural, ainda que, em nenhum caso, supere os 5%. Na população feminina, as taxas variam de 3,7% no Sul a 6,2% no Nordeste e Centro-Oeste. No meio rural, alcança 3,6% no Sul e é de 5,1% no Norte. Nas áreas rurais do Nordeste, a prevalência de déficit de peso alcança 7,2 das mulheres adultas, no Sudeste, 6,2 % e no Centro-Oeste, 6,3%, indicando, nos três casos, baixa exposição à desnutrição.
déficit de peso diminui entre homens e mulheres à medida que os rendimentos aumentam. No caso da  população masculina, é de 4,5% quando os rendimentos per capita são iguais ou  inferiores a ¼ de salário-mínimo e de 1,3 % para os rendimentos superiores a 5 salários-mínimos per capita.  Já entre as mulheres, são próximos a  5% quando os rendimentos são menores que dois salários-mínimos per capita e de 8,5% quando o rendimento per capita é inferior a ¼ de salário mínimo.

Evolução de indicadores na população de 20+ anos de idade, por sexo – Brasil – períodos 1974-75, 1989, 2002-2003 e 2008-2009 – Histograma com assimetria à direita



Desnutrição energético-proteica - DEP

Representa uma variedade de condições patológicas decorrentes da falta concomitante de calorias e de proteínas, em diferentes proporções. Esta condição é mais freqüente em lactentes e pré-escolares e geralmente encontra-se associada a infecções recorrentes.
A DEP possui importância epidemiológica relevante, pois 1/3 da população infantil de países considerados em desenvolvimento apresenta algum grau de desnutrição do tipo primário, resultante da baixa ingestão de nutrientes.
Além da elevada prevalência, a DEP torna-se, direta ou indiretamente, a principal causa de morbidade e mortalidade nas crianças abaixo de 5 anos, que é o período de maior vulnerabilidade.

           É importante destacar alguns aspectos como:
           • Antecedentes gestacionais e perinatais, particularmente tamanho e peso ao nascer e gestação em adolescentes.
           • O ambiente físico, com ênfase no que se refere a saneamento e salubridade - riscos óbvios de morbidade
           • A situação familiar - composição de núcleo, presença materna e paterna, relacionamento afetivo, estimulação, problemas (etilismo, doenças mentais, instrução, cultura, etc)
           • Condição sócioeconômica (escolaridade, profissão, ocupação, renda, número de pessoas que moram juntas, etc).

•Quanto a intensidade:
–Leve ou 1° grau
–Moderada ou 2° grau
–Grave ou 3° grau
•Métodos de Classificação:
–Classificação de Gomez
–Classificação de Waterlow

Classificação de Gomez (3m a 2 anos)
–Déficit de peso em rel. ao peso p50 p/ idade.
–Normal: peso > 91% do p50 p/ idade.
–P/I = peso encontrado x 100 / peso ideal (p50)

 Classificação de Waterlow
–Baseia-se nos índices peso/altura e altura/idade
–A/I = altura encont. x 100/ altura ideal (p50)
–P/A= peso encont. x 100/ peso ideal p/ altura observada
- Eutrófico
- Desnutrido crônico
- Desnutrido atual ou agudo
- Desnutrido pregresso


• Avaliação do estado nutricional
< 3 meses: aspecto clínico, cálculo do ganho
ponderal (30 g/dia),vitalidade, movimentação, n°
micções, evacuações e sono.
3 meses a 2 anos: critério de Gomez
2 a 10 anos:Waterlow/Batista
Adolescentes: IMC, aval. índice de estatura p/ idade e estadiamento puberal – Método de Tanner.
Como podemos observar no gráfico abaixo, o IMC das crianças e adolescentes avaliados nesta população apresenta 56% estão dentro dos valores de peso normal, 28,79% estão abaixo do peso, 12% estão acima do peso e apenas 3% apresentam-se na faixa da obesidade infanto-juvenil. Logo, a obesidade neste grupo não apresenta um fator de risco, mas devemos observar que encontramos muitas crianças abaixo do peso e isto pode comprometer o desenvolvimento da criança e do adolescente, pois ambos estão na fase de maturação biológica e crescimento físico.

Diagrama circular